Nem sempre. Simplesmente ter novas ideias e fazer invenções, ou seja, criar ou melhorar tecnologias, produtos ou processos, não caracteriza uma inovação. Na pesquisa científica criamos invenções o tempo todo, mas nem todas podem ser uma inovação.
Há um consenso de que o conceito de inovação é a aplicação de uma nova ideia e que tenha motivação econômica, que na maioria das vezes irá trazer um benefício para a sociedade. Essa é a grande diferença entre invenção e inovação.
Assim como acontece na prática científica, as colaborações são o ponto inicial para fomentar a invenção. Da mesma forma ocorre na inovação, em que a co-criação e o network são essenciais para expandir a mente, conectar ideias e avaliar novos negócios.
Devido a esta característica de motivação econômica, é comum a inovação estar relacionada aos negócios e ao empreendedorismo. Afinal, fazer uma simples ideia se transformar em um negócio não é algo trivial, principalmente porque que não faz parte da nossa cultura. Felizmente a cultura da inovação está se disseminando tanto em empresas (de todos os portes) quanto em universidades e institutos de pesquisa.
Mas então é possível uma invenção da pesquisa científica se tornar uma inovação?
Sim! Na universidade estamos fazendo alguns estudos sobre descoberta e desenvolvimento de moléculas inéditas para o tratamento de câncer e doenças neurodegenerativas, em parceria com outros grupos de pesquisa. Algumas moléculas foram criadas e modificadas para melhorar a sua atividade e têm se mostrado bastante promissoras.
Poderíamos ter publicado essa invenção, mas decidimos migrar esse projeto para uma inovação.
E para ajudar nesse processo, muitas ferramentas da administração foram utilizadas. Essa é uma prática que tem sido comum nas inovações, para que o processo seja feito de forma mais eficiente.
A primeira coisa que fizemos foi uma análise criteriosa do mercado para saber quantos casos da doença existem no Brasil e no mundo, para entender quem seriam os clientes, os usuários finais, quais seriam os nossos concorrentes, e se precisaríamos de parceiros para o desenvolvimento.
Para entender esse panorama, existe uma ferramenta muito usual, o Business Model Canvas, que permite a observação e condensação de todas essas informações em uma mesma página, como um quadro de modelo de negócios, sendo portanto possível enxergar o negócio como um todo. Mas mesmo assim, depois disso é essencial que um plano de negócios detalhado seja elaborado.
É importante que o modelo de negócios esteja claro, para se selecionar o mais apropriado: se atenderá diretamente às necessidades do cliente (B2C), se será vendida a outra empresa (B2B), e nesse último caso, como será feita essa negociação, se será um co-desenvolvimento, uma parceria ou uma transferência de tecnologia. No nosso caso de desenvolvimento de medicamento, é impossível realizarmos todo o processo na Universidade, e assim, precisamos de uma parceiro para o desenvolvimento.
Nesse momento também fizemos uma pesquisa para posicionar o nosso produto no mercado, com análises de custos, gastos, ROI, etc. Desta forma, analisamos o lucro que a nossa inovação retornaria e isso ajudou a confirmar o modelo de negócios mais apropriado.
De qualquer forma, é importante que, antes da busca por parceiros, a atividade inventiva seja protegida, e para o nosso caso o melhor é o modelo de patentes. Essa patente no futuro pode ser licenciada à empresa parceira, que também obterá lucros futuros com a venda do medicamento.
Outros métodos, como o SWOT e o 5W2H (ver tabela abaixo), ajudaram na construção do plano de negócios, uma vez que essas ferramentas auxiliam na elaboração de um planejamento estratégico, em que pontos fortes e fracos do negócio são identificados, bem como oportunidades de novos negócios.
Uma vez que a viabilidade do negócio foi confirmada, outras ferramentas foram utilizadas para a sua execução.
Métodos tradicionais de gestão são de grande valor para criar diversas metas e cronograma, e ajudar ao bom andamento do trabalho. No entanto, existem outros métodos que tornam a análise do negócio mais rápida, uma vez que são realizadas etapas curtas de planejamento e desenvolvimento, no sentido de possibilitar avaliações constantes para que decisões sejam tomadas de forma mais rápida.
Um deles é o método Agile, criado primeiramente para o desenvolvimento de softwares, mas que hoje é utilizado em vários tipos de negócios.
Assim, se há falhas em algum aspecto do negócio, estas podem ser rapidamente identificadas e corrigidas, o que permite inclusive a possibilidade de pivotar a ideia, ou seja, mudar o caminho do negócio.
No nosso caso, estabelecemos pequenas metas, como por exemplo, estudo de toxicidade em animal. A partir daí desmembramos essa meta em várias atividades com o estabelecimento de prazos e entregas, como por exemplo item toxicidade aguda em fêmeas com prazo de 2 meses, toxicidade crônica em fêmeas com prazo de 4 meses, e assim por diante.
Esse processo de avaliação tem muita correlação com reuniões que são feitas semanal ou quinzenalmente nos grupos de pesquisa científica para entender o andamento dos projetos.
Podemos ainda fazer um paralelo com os estudos genéticos feitos em moscas de fruta ao invés de outros animais, pois o inseto tem um ciclo de vida extremamente curto, em que é possível avaliar o desenvolvimento, crescimento e morte de um ser vivo em apenas um dia, diferente de outros animais, em que levaríamos anos para completar esse estudo.
Para cada objetivo que traçamos no nosso negócio, fizemos uma análise de PDCA. Essa ferramenta permite o planejamento de ações, avaliação de sua execução e atuação com ações corretivas. Por exemplo, a toxicidade aguda em camundongos fêmeas não foi concluída no prazo, pois houve contaminação da ração dos animais. Uma ação seria a mudança do protocolo de esterilização dos materiais para uma próxima etapa.
É importante ressaltar que o PDCA é um ciclo, ou seja, a primeira etapa se conecta com a última, o que permite o estabelecimento de outros objetivos e checagens o todo tempo durante o andamento do negócio.
No fim das contas, existem inúmeras ferramentas, e devemos saber qual utilizar e em que momento (ver tabela abaixo). Muitas vezes, elas são até usadas em combinação para atingir o objetivo desejado. Para nós, garantiu o melhor andamento da nossa inovação (que ainda não terminou!), de forma que o produto possa chegar de forma mais eficiente à população, com garantia de sucesso do negócio.
PDCA - M Best and D Neuhauser. Walter A Shewhart, 1924, and the Hawthorne factory. Qual Saf Health Care. 2006 Apr; 15(2): 142–143.
Alexander Osterwalder, Yves Pigneur. Business Model Generation: Inovação Em Modelos De Negócios. Alta Books; 1ª Edição, 2011.
Robson Camargo, Thomaz Ribas. Gestão ágil de projetos: As melhores soluções para suas necessidades. Saraivauni; 1ª Edição 15 janeiro 2019
Albert Humphrey. SWOT Analysis for Management Consulting. SRI 2005.
Lee Koa. Powerful 5W2H/IPO Method for Business Pocesses: How to hold entire processes of an organization within one database table? reatespace Independent Publishing Platform, 2013.
https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/pdca/
Sucesso prof. Juliana👏🏻